terça-feira, 6 de setembro de 2011

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Ciência Brasileira

No curto intervalo de duas décadas, entre 1981 e 2000, o Brasil passou da 28ª para 17ª posição no ranking mundial de produção de ciência. Os dados, relativos à elaboração de artigos científicos, são do Institute for Scientific Information (ISI), entidade de reconhecido prestígio em bibliometria.

Nesta posição, o Brasil está à frente da Bélgica, Escócia e Israel, entre outros, e bem próximo da Coréia do Sul, Suíça, Suécia, Índia e Holanda.
O avanço da pesquisa científica brasileira, apesar de dificuldades históricas que ainda permanecem, resulta de iniciativas tomadas há meio século, especialmente com a constituição do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), principal agência nacional de fomento.

Nos anos 60, além da criação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), também foram implantados vários cursos de pós-graduação destinados à formação de novos pesquisadores. Desde então, novas agências estaduais de apoio à pesquisa foram instaladas e fortalecidas. E, em meados dos anos 80, a criação do Ministério da Ciência e Tecnologia enfatizou a política científica e definiu áreas estratégicas para investimento e apoio.

Entre as dificuldades que ainda emperram o desenvolvimento da ciência no Brasil estão a concentração das investigações em universidades e institutos públicos, com uma contrapartida pouco significativa da iniciativa privada, além do fluxo irregular de recursos financeiros.

Os cenários mais recentes, no entanto, acenam com perspectivas promissoras em relação a estas limitações. Empresas privadas estão se dando conta de novas perspectivas de negócios envolvendo pesquisa, desenvolvimento e aplicação. Do lado dos financiamentos públicos, os fundos setoriais – percentual de recursos obtidos com atividades como exploração de petróleo e energia elétrica, entre outros – devem ampliar sensivelmente os financiamentos destinados à pesquisa científica.

Por incrível que pareça, um novo desafio do Brasil é incorporar sua grande quantidade de doutores no mercado de trabalho. Um expediente usado até agora vem sendo a concessão de bolsas de pesquisa. Mas essa é uma situação improvisada que não pode continuar. As universidade públicas dispõem de cerca de 6 mil vagas, das quais apenas 2 mil deverão ser preenchidas no curto prazo. O país precisa dessa mão-de-obra altamente qualificada. Para que ela tenha um horizonte profissional é necessária maior audácia da iniciativa privada.


O Fundo Verde Amarelo vai financiar a formação de recursos humanos, área em que o Brasil vem tendo progresso significativo. Os dados relativos a 2002 estimam em 110 mil o contingente de estudantes em cursos de pós-graduação (mestrado e doutorado). Ao longo do ano 2000, segundo dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), foram formados 5.344 novos doutores. Em 2001, este número subiu para 6.300. Os mestres, que foram 18.374 em 2000, superaram os 20 mil no ano passado.

Astronomia, biotecnologia, física, medicina e pesquisa agrícola são alguns dos segmentos com desenvolvimento acelerado, projetando o país no cenário internacional. No entanto, outras áreas, como a matemática, de que parte destas pesquisas dependem, ainda não dispõem da quantidade desejável de pesquisadores.

Enquanto comemora conquistas recentes em genômica e ingressa no novíssimo campo da proteômica, o Brasil faz planos para desenvolver, rapidamente, também o segmento da nanotecnologia.

Existe uma demanda não atendida de ensino superior no Brasil, mas esta situação vem mudando. Em 1981, perto de 1,4 milhão de estudantes estavam matriculados nas redes pública e privada de ensino superior. Em 1994, este número subiu para 1,7 milhão e, em 1999, passou para 2,4 milhões. Apenas entre 1994 e 1999, houve um crescimento de 58,1% nos números do ensino privado. O cenário atual prevê um ligeiro e crescente aumento de pesquisas na rede privada, com a incorporação de doutores aposentados precocemente do setor público.

O biólogo no combate

à Dengue

recente epidemia de dengue no Rio de
Janeiro trouxe para as manchetes
nacionais o grande impacto desta
doença na saúde pública. E, também, as
grandes dificuldades que existem para o
seu enfrentamento, já que a transmissão
da doença tem como vetor um mosquito
(Aedes aegypti), altamente adaptado aos
ambientes urbanos e já presente em
todos os estados brasileiros. É nesse
contexto que os biólogos têm um
importante e cada vez mais relevante
papel no combate à doença.

Conforme as diretrizes do Programa Nacional
de Combate à Dengue, estabelecido pelo Ministério
da Saúde em 2002, os municípios brasileiros,
especialmente aqueles em que já foi detectada a
presença do mosquito vetor, devem desenvolver uma
série de ações de prevenção à doença. Em Porto
Alegre, desde 2001 foi identificada a infestação pelo
Aedes aegypti, mas até o momento não se teve a
circulação do vírus da dengue, o que tem mantido
a cidade sem casos autóctones da doença.
E qual o papel dos biólogos nesse processo? Cabe
lembrar que o combate à dengue é uma atividade
ligada à Vigilância em Saúde, usualmente da área
de controle de zoonoses. Nesse setor, a presença de
biólogos tem sido ainda incipiente, mas a demanda
deve ampliar a necessidade de profissionais como
servidores municipais nessa área. No Programa de
Combate à Dengue, os biólogos atuam na Vigilância
Entomológica, acompanhando os níveis de
infestação do mosquito vetor, com uso de
armadilhas (no caso de áreas não infestadas) ou
avaliando a densidade de mosquitos, nos municípios
infestados. São responsáveis pelo planejamento e
coordenação das ações do Programa da Dengue e
supervisão em campo dos Agentes de Controle de
Endemias, que realizam as atividades de visita
domiciliar para o controle do vetor.
Nessas tarefas, além dos conhecimentos técnicos
específicos, são importantes as habilidades de gestão
C
Maria Mercedes Bendati, CRBio N° 02973-03, é bióloga. Atualmente,
atua no Núcleo de Vigilância de Roedores e Vetores, Coordenadoria Geral
de Vigilância em Saúde, Secretaria Municipal de Saúde, Prefeitura
Municipal de Porto Alegre. No Programa Municipal de Prevenção à
Dengue, trabalha juntamente com os biólogos Maria Angélica Weber,
Maria Inês Bello, Getúlio Dornelles Souza, Rosa Maris Rosado, Gisele
David Silva, Cristiane Cruz Veiga e Luiz Carlos Daudt.
de pessoas, trabalho em equipe, visão estratégica e
competências administrativas. Além dessa atividade,
também temos biólogos entomólogos que atuam
na identificação de mosquitos adultos e larvas,
permitindo o monitoramento e avaliação das
densidades do vetor e seus principais criadouros.
Como o grande desafio do controle do mosquito
envolve novos padrões comportamentais, a educação
ambiental é também um eixo importante no
Programa da Dengue.
Responsabilidades
Nessa área, o biólogo também atua, sendo
responsável por ações tanto de educação ambiental
formal, na capacitação de professores e comunidade
escolar das redes públicas e privada de ensino, como
pela área não-formal e informal. Diversas ações de
mobilização da comunidade, envolvendo instituições
públicas, não-governamentais e empresas, assim
como a comunicação social, têm tido a participação
de biólogos na sua concepção, com o objetivo de
informar e conscientizar a população para evitar os
criadouros de mosquitos no ambiente urbano.