"Minha preocupação é que algumas pessoas concluirão que eles criaram uma nova forma de vida", diz Jim Collins, um bioengenheiro da Universidade de Boston. “Célula artificial”. Nicholas Wade. The New York Times. Publicado em 20 de maio de 2010. Link para o artigo original: http://www.nytimes.com/2010/05/21/science/21cell.html.
O pioneiro no estudo do genoma, Dr. J. Craig Venter, deu mais um passo em sua missão de criar a vida sintética ao sintetizar um genoma bacteriano e usá-lo dentro de uma célula. A inserção do DNA foi concebido para reproduzir a sequência genética de uma bactéria. Para testar o DNA, a equipe o inseriu em uma célula vazia de uma espécie de bactéria. Dr. Venter chama o resultado de "célula sintética" e apresentou a pesquisa como sendo um marco que abrirá caminho para criar micro-organismos úteis na produção de vacinas e biocombustíveis. Em uma conferência dada à imprensa, Dr. Venter descreveu a célula como "a primeira espécie autorreplicante do planeta cujo pai é um computador". "Este é um avanço filosófico, assim como tecnológico", disse ele, sugerindo que a "célula sintética" levanta novas questões sobre a natureza da vida. Alguns cientistas concordam que ele conseguiu uma façanha técnica ao sintetizar a maior quantidade de DNA até o momento - um milhão de pares de bases de comprimento - e em torná-la precisa o suficiente para substituir o DNA da própria célula. Outros consideram essa abordagem pouco promissora, pois pode levar anos para criar novos organismos, uma vez que já existem progressos na fabricação de biocombustíveis elaborados com a tradicional engenharia genética, pela qual os organismos são modificados geneticamente. O objetivo do Dr. Venter é, em primeiro lugar, conseguir o controle sobre o genoma de uma bactéria sintetizando seu DNA em laboratório e, em seguida, por meio da concepção de um novo genoma desprovido de suas funções naturais, equipá-lo com novos genes que possam regular a produção de produtos químicos funcionais. "A capacidade de reconstruir um genoma com suas próprias letras, inserindo diferentes genes, o torna um instrumento muito poderoso", disse Gerald Joyce, biólogo do Instituto de Pesquisa Scripps, em La Jolla, Califórnia. Em resposta ao relatório científico, o presidente Barack Obama pediu à comissão de bioética da Casa Branca para finalizar em seis meses um estudo sobre as questões suscitadas pela biologia sintética. Ele disse ainda que esse empreendimento levanta “preocupações reais", embora não as tenha especificado. Há três anos, Dr. Venter deu um primeiro passo rumo mostrando que o DNA original de uma bactéria poderia ser inserido em outra, assumindo o controle da célula hospedeira. No ano passado, sua equipe sintetizou um pedaço de DNA com 1.080 mil de pares de base de comprimento. Em relatório para o jornal Science, a equipe liderada por Daniel G. Gibson, Hamilton O. Smith e Dr. Venter, demonstrou que o DNA sintético assume o controle de uma célula bacteriana assim como o DNA original, fazendo com que a célula forme as proteínas específicas com as informações dadas pelo novo material genético. A equipe ordenou os pedaços de DNA de mil unidades de comprimento, fornecidos pela Blue Heron - uma empresa especializada na síntese de DNA - e desenvolveu uma técnica que transforma pedaços curtos em um genoma completo. O custo do projeto foi de 40 milhões de dólares, mais do que foi pago pela Synthetic Genomics, empresa fundada pelo Dr. Venter. Ele disse que tentaria o experimento com outros organismos já que a bactéria fora inadequada para a produção de biocombustíveis. A Synthetic Genomics tem um contrato com a Exxon para gerar biocombustíveis a partir de algas. A segunda, maior empresa privada de petróleo e petroquímica, está disposta a gastar até 600 milhões de dólares para que todas as suas metas sejam cumpridas. Dr. Venter disse que tentaria construir "um genoma com 50 a 60 parâmetros diferentes, viabilizando o crescimento de algas superprodutivas". Em suas viagens de iate ao redor do mundo, Dr. Venter analisou o DNA de muitos micro-organismos, principalmente de algas, e agora possui um banco de cerca de 40 milhões de genes. “Esses genes serão um recurso que permitirá às algas serem capazes de produzir substâncias químicas funcionais”, disse ele. Outros cientistas disseram que Dr. Venter não abriu novos caminhos, que ele apenas montou um grande pedaço de DNA. "Para mim, Craig exagera na importância disso", afirmou David Baltimore, geneticista do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech). Ele descreveu o resultado como "uma técnica vigorante", uma questão de escala, mas não um avanço científico. "Ele não criou a vida, só imitou", disse Dr. Baltimore. A abordagem do Dr. Venter "não é necessariamente o caminho" para a produção de micro-organismos funcionais, disse George Church, pesquisador do genoma da Harvard Medical School. Leroy Hood, do Institute for Systems Biology de Seattle, descreveu o relatório do Dr. Venter como "chamativo", mas comentou que os genes de baixo nível de expressão deveriam ser estudados antes da tentativa de fabricar um organismo inteiro. Em 2002, Eckard Wimmer, da Universidade Estadual de Nova York, em Stony Brook, sintetizou o genoma do vírus da poliomelite. Esse genoma, contendo um vírus vivo, infectava e matava camundongos. O trabalho do Dr. Venter é similar, exceto pelo fato de que o genoma do vírus da poliomielite possui somente 7.500 pares de bases de comprimento, e o genoma da bactéria é mais de 100 vezes maior. O grupo ambiental, Friends of Earth, denunciou o genoma sintético como "uma tecnologia nova e perigosa", completando que "o Sr. Venter deve parar suas pesquisas até que os regulamentos sejam decididos". O genoma sintetizado por ele é copiado de uma bactéria que infecta caprinos. Dr. Venter declarou que antes de copiar o DNA, extirpou 14 genes que poderiam ser patógenos e, mesmo que a nova bactéria escapasse, não causaria danos às cabras. Sua afirmação de que ele criara uma "célula sintética" alarmou as pessoas, que pensam que ele criou uma nova forma de vida ou uma célula artificial. "É claro que não é isso - seu ‘pai’ é uma forma de vida biológica", disse Joyce, do Instituto de Pesquisa em Biomedicina (Scripps). Dr. Venter copiou o DNA de uma espécie de bactéria e o inseriu em outra célula. A bactéria criada produziu todas as proteínas e organelas seguindo as especificações do DNA inserido. Por isso foi chamada de ‘célula artificial’. "Minha preocupação é que algumas pessoas concluirão que eles criaram uma nova forma de vida", disse Jim Collins, bioengenheiro da Universidade de Boston. "O que eles criaram é um organismo com um genoma sintetizado. Mas isso não representa a criação da vida a partir do zero ou a criação de uma nova forma de vida", afirmou ele.
Artigos relacionados: “ ‘Artificial life’ breakthrough announced by scientists”. Victoria Gill. BBC News. May 2010. http://www.bbc.co.uk/news/10132762 “And man made life”. The Economist. May de 2010. http://www.economist.com/node/16163154
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